Obra é resultado de projeto editorial de alto padrão e excelente gosto.
Lançado, há poucos dias, na sede da Academia Mineira de Letras, o mais recente livro de Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, “Geraes: arte barroca em Minas” (Relicário, 310 páginas), é resultado de projeto editorial de alto padrão e excelente gosto, que inclui um conjunto de ricas imagens e um utilíssimo índice remissivo, além das notas e da bibliografia que auxiliam na compreensão de cada um dos 17 ensaios.
Organizado por Maria de Andrade, o volume ainda conta com apresentação luxuosa de Silviano Santiago, que define a forma de erudição cultivada pelo prefeito de Ouro Preto: “Apresenta-se como o fruto amadurecido do trabalho diuturno da curiosidade existencial e intelectual de um sujeito (…) Quando o esforço da mente laboriosa do sujeito chega à condição de acúmulo na sua memória, o conhecimento armazenado se extravasa em palavras para se revelar indispensável na própria condução da vida. (…) Refiro-me, pois, à estocagem orgânica de saber, condição sine qua non para o bom funcionamento de um sistema governamental republicano e democrático. A ela dou o nome de erudição cidadã”.
“Geraes…” está dividido em duas partes: “Arte barroca brasileira” e “As bulas e as fábulas: preservação e inspiração”. Na primeira, há textos especialmente dedicados à arte do Aleijadinho. Um deles registra desde a desaprovação às obras de Antônio Francisco Lisboa manifestada por João do Rio (ainda marcado pelo gosto neoclássico) ao entusiasmo com que foram reabilitadas pelo olhar de modernistas como Mário de Andrade. Observa Ângelo: “O que João do Rio vê como ‘feio demais’ passa a ser admirado pelo mundo inteiro, sendo patrimônio cultural da humanidade, por decisão da Unesco. Para Carlos Drummond de Andrade, o Profeta Isaías figura ao lado do Voltaire de Houdon, no museu imaginário da escultura mundial”.
Outra joia da seção inicial do livro é “Santos africanos no Brasil”, em que Ângelo focaliza a Virgem do Rosário, padroeira dos africanos escravizados, e os santos que eles elegeram como seus protetores privilegiados, a saber, Efigênia, Elesbão, Benedito e Antônio de Noto ou de Caltagirone, dando destaque aos templos e às capelas coloniais a eles dedicados, tanto em Minas quanto em outros estados do país. Na segunda parte, entre vários ensaios de notável qualidade, destaco os estudos sobre “Niemeyer e o Grande Hotel de Ouro Preto” e “Jardins mineiros, de Ouro Preto a Inhotim”. Um livro que já nasce como obra de referência e consulta permanente.
Por Rogério Faria Tavares. Jornalista. Doutor em literatura. Presidente emérito da Academia Mineira de Letras.
Foto: Ane Souz / Divulgação